domingo, 2 de agosto de 2009

Antropologia do sexo


A SEXUALIDADE HUMANA
será nosso fio condutor para acompanhar a diversidade e as principais características das teorias antropológicas . Para unificar nosso vocabulário, iniciamos com informações básicas sobre o fenômeno sexual.
Segundo os biólogos, os primeiros organismos sexuados – as algas - teriam surgido a 2 bilhões de anos, representando a reprodução sexual uma das mais bem sucedidas adaptações da evolução da vida.
O estudo científico do sexo surgiu na Civilização Ocidental, contraditoriamente, na época de maior repressão anti-sexual, na era Vitoriana, segunda metade do século XIX. Até aquela época, predominou no milieu pensante ocidental, irrecuperável ignorância e pudico silêncio a respeito da sexualidade humana.
Heródoto, no século V, é apontado por Gregersen, em seu livro Práticas Sexuais como o autor da primeira teoria antropológica relativa à sexualidade, livre da explicação mitológica: para Heródoto, as pessoas que viviam em climas quentes eram sexualmente mais ativas e menos reprimidas do que as que habitam em áreas frias. Foram necessários mais de 1500 anos para que finalmente, em 1980, George Murdock testasse essa hipótese: da fato, com uma amostra de 126 sociedades, comprovou ser acertado o insight do mestre grego, observando-se correlação significativa entre sociedades sexualmente dionisíacas e climas mais quentes, predominando, em oposição, tendências sexuais apolíneas em nichos ecológicos mais frios. Neste caso particular, não comungo com a crítica que Leach faz a Murdock em Repensando a Antropologia, equiparando seu trabalho ao de mero "colecionador de borboletas". Como enfatizou Carole Vance, no clássico "A antropologia redescobre a sexualidade: um comentário teórico", os antropólogos gozam geralmente a reputação de serem investigadores destemidos dos costumes e práticas sexuais em todo mundo, rompendo os tabus intelectuais sexofóbicos comuns em outros disciplinas mais tímidas. Tal reputação, contudo, não corresponde perfeitamente à realidade, pois nossa disciplina compartilha ainda a opinião geral na academia, de que sexualidade não é área inteiramente legítima, lançando dúvidas sobre a própria pesquisa, seus motivos e até sobre o caráter e idoneidade de quem pesquisa temas sexuais.
Para início de qualquer discussão sobre sexualidade humana, e para definir nosso arcabouço conceitual, é fundamental esclarecer quando menos os seis principais significados que o termo sexo pode assumir no discurso científico:
1. Sexo genético: decorrente dos cromossomas, o código biológico mediante o qual cada pessoa terá suas próprias características físicas, e que ao se reunirem dois cromossomas XX, o indivíduo será fêmea ou se a união dos cromossomas for XY, nascerá macho;
2. Sexo gonadal: composto pelas glândulas responsáveis pela diferenciação dos dois sexos – no homem representado pelos testículos, que produzem os espermatozóides e os hormônios masculinizantes (testosterona) e na mulher pelos ovários que produzem os óvulos e demais hormônios responsáveis pelas características sexuais femininas (progesterona);
3. Sexo anatômico: é o aspecto exterior do corpo humano que distingue o aparelho sexual da mulher (vulva) do órgão sexual do homem (pênis), também chamado de órgãos genitais;
4. Sexo psicológico: conhecido como "identidade sexual" – é a forma como cada indivíduo percebe e reconhece sua própria condição existencial enquanto pertencente ao universo masculino ou feminino;
5. Sexo social: também chamado de "papel de gênero", a forma específica como a pessoa vai representar o personagem que cada cultura atribui historicamente a mulheres e homens através do processo de socialização;
6. Sexo erótico: hoje referido como "orientação sexual" , ou seja, o objeto de desejo para o qual o ser humano dirige sua libido, podendo ser heterossexual, homossexual ou bissexual.
Tais distinções são fundamentais para a compreensão da sexualidade humana, pois diferentemente do que ocorre e é observado no mundo animal irracional, onde a diferenciação e performance sexuais são determinadas geneticamente, sendo a resposta instintiva quase igual e padronizada para todos os indivíduos da mesma espécie, entre os humanos, a vivência sexual é marcadamente polimorfa, dada a complexidade do córtex cerebral e a diversidade das respostas culturais. Um mesmo indivíduo pode ser genética, gonadal e anatômicamente macho, e no entanto, identificar-se e viver psicológica, social e eroticamente como mulher – ou vice-versa. Em seu livro Sex, Gender and Society, Ann Oakley demonstrou como se dá a construção socio-sexual da personalidade, intelecto, dos papeis sociais e gênero, descartando a hipótese de que os hormônios sexuais produzam um padrão de sensitividade cerebral explicativo das diferenças do papel de gênero.
Marshall Shallins, já em 1976, em sua contundente crítica à obra pioneira de Edward Wilson, Sociobiology: The New Synthesis, chamou a atenção para "o equívoco de considerar a priori a sexualidade com um fato biológico, pois nenhuma satisfação pode ser obtida sem atos ou padrões socialmente definidos e contemplados, de acordo com um código simbólico, práticas sociais e propriedades culturais. A biologia humana não é um conjunto de imperativos absolutos: é maleável e apresenta enorme plasticidade se comparada com o determinismo a que estão sujeitos os animais. O meio ambiente e a cultura alteram o caráter biológico da sexualidade humana. A biologia, embora seja condição absolutamente necessária para a cultura, é também absolutamente insuficiente e incapaz de especificar as propriedades culturais do comportamento humano ou suas variações de um grupo para outro. Aliás, essa é a mesma crítica que a antropologia feminista faz hoje à própria separação entre sexo e gênero.Michel Foucault, na História da Sexualidade, ao apresentar como característica do Ocidente a Scientia Sexualis, enquanto o Oriente seria marcado pela Ars Erotica.Importante igualmente salientar o papel propulsor da própria revolução sexual no desenvolvimento dos estudos sobre sexualidade humana: os movimentos sociais mais uma vez pressionando a Academia para não ficar a reboque da história!
Parto de uma definição sintética da sexualidade como "expressão social de relações sociais e físicas, desejos corpóreos, reais ou imaginários por outras pessoas ou por si próprio, incluindo todos os movimentos, vocalizações e reações diretamente ligadas a respostas psicofisiológicas que provocam excitação e resultam ordinariamente em prazer e orgasmo" . Quanto ao sistema de gênero, pode ser definido como "o conjunto de arranjos pelos quais a sociedade transforma o sexo biológico em produtos psico-sociais diferenciados".
Deslocando agora a análise do papel de gênero para o erotismo, eis os principais tópicos que o etnógrafo deve estar atento ao pesquisar a sexualidade em diferentes sociedades humanas, segundo sugestão de Marshall e Suggs: órgãos sexuais; objeto da prática sexual; orgasmo; técnicas de relação sexual; programa para o coito; fatores socio-morais ligados ao erotismo.
Manuais antigos do Oriente, como Kama Sutra, e O Jardim Perfumado descrevem diferentes posições de atos sexuais, sendo que o pintor Giulio Romano, no século XVI, gravou 16 diferentes modelos de cópula.“No começo era o sexo e o sexo estará no fim. O sexo como característica do homem e da sociedade sempre foi central e assim vai continuar a ser...” escreveu em 1929 profeticamente Alexander Goldenweiser, em seu precursor Sex and Primitive Society.Em 1927 Malinowski publica Sexo e repressão na sociedade selvagem, onde reconhece dever muito a Freud pelo estímulo e instrução sobre alguns aspectos da psicologia humana, sobretudo a importância da psicologia infantil na história do indivíduo, estimulando-o ao "estudo aberto do sexo e várias vergonhosas mesquinharias e vaidades do homem, retirando a folha de parreira do nu."
O substrato argumentativo de Malinowski é que a sexualidade apenas aparentemente seria uma entidade universal platônica, norteada por impulsos nativos e fixos da natureza humana: para ele o correto é entender o sexo como fenômeno particular, resultado do hábito cultural e não da razão nem do instinto.
O estudo antropológico do sexo , a quebra de paradigmas e a aceitação do papel da mulher na atualidade(sexo social ou de gênero, descrito acima), traz novos matizes para a sexualidade humana no século XXI. Programas de tv como "Sex and City", nem sempre são fiéis à realidade de uma solteira da cidade de Nova York, pórem derrubam os pilares da sociedade cristã, puritana e conservadora norte-americana. A frustração do ser humano, pelo seu próprio vazio interior traz a tona a busca pelo prazer, o Hedonismo. Ahhh... O Ser Humano certamente é fascinante! Não é necessário que concordemos com tudo, aí está a discussão! Mas o estudo psicológico e científico, nos torna meros ratos de laboratórios... O importante é a liberdade plena que cada um sinta de ser feliz, respeitando até mesmo as diferenças. O Universo humano é muito rico... seguiremos estudando e procurando entender, e como sempre digo: "cada louco do seu jeito". Aceito a diversidade e quero que todos sejam felizes.

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